Um cinturão verde, rico em água e frutas, em pleno sertão baiano resiste à agressão humana. A Reserva Natural da Caboronga, localizada no município de Ipirá, 205 km de Salvador, é um lugar impressionante. No meio da caatinga, mas nada semelhante à vegetação xerófila, a Caboronga é uma dádiva de Deus.
Cravada na Serra que leva o mesmo nome, a Caboronga sempre foi uma zona estratégica para a ocupação humana. Ainda hoje há registro que povos aborígenes, os Paiaiás, habitaram o local. Zona verde e com presença de água durante o ano inteiro, certamente, a Caboronga foi palco de diversas disputas pelo seu controle. Mesmo hoje, o interesse em se apropriar das ricas terras da reserva é real.
A água cristalina brota(va) com facilidade em vários pontos da Caboranga durante o ano inteiro. A reserva conseguiu superar secas terríveis que o semiárido sofreu. A abundância de seu lençol freático era tão grande, que durante anos, servia como principal fonte de abastecimento de água para a cidade de Ipirá. Moradores dizem que a Embasa, há décadas, ganhou muito dinheiro explorando a reserva.
Com a chegada dos portugueses na região, os Paiaiás deram lugar aos fazendeiros, que fizeram da reserva uma rica chácara onde de tudo que se planta dar. Diversos tipos de frutas ainda são possíveis encontrar na reserva. “A Caboronga era quem abastecia as feiras livres de Ipirá, Bravo e outras localidades próximas”, diz o nativo José da Silva Soares.
Depois que o lençol freático da Caboronga secou, a reserva entrou em declínio. Para “Seu Nego Velho”, 80 anos, o fim da Caboronga é um "destino de Deus". O morador busca na religiosidade explicações para o abandono e a exploração irresponsável dos homens, que se apropriaram da reserva durante anos.
A Caboronga, que foi um lugar alegre e bastante habitado, hoje conta apenas com 04 famílias morando na reserva. Baé é um dos que resiste a degradação do local. Ele possui esposa, filhos e netos morando na Caboronga. Segundo Zé Mário, um dos frequentadores e defensores da Caboronga, Baé é tão apaixonado pela reserva, que até risco de morte sofreu defendendo o equilíbrio do local.
Israel Santos Ribeiro, filho de Baé, diz que há poucos moradores na Caboronga, mas isso não significa abandono. Moradores antigos migraram, mas a reserva ultimamente é local de esconderijo para quem pratica crimes em Ipirá e outros locais. A insegurança é total no local. A reserva também recebe visitas de pessoas estranhas, que aparecem apenas para colher frutas. Nós mesmos encontramos um menor, que se diz morar em Ipirá, 10 km da reserva, e se identificou com o nome de Antônio Carlos. O menor tem parte do rosto deformado por queimadura. Diz que quando bebê a vela o queimou. Não frequenta escola e sempre aparece na Caboranga para se alimentar com frutos.
Antônio e a Caboronga há algo semelhantes: ambos foram abandonados por quem tem o dever de cuidar. A Caboronga ainda resiste, assim como o jovem. Mas o poder público pouco faz para mudar essa triste realidade. Moradores dizem que todo primeiro de maio há uma passeata em defesa da reserva, mas políticas públicas de fatos ainda não ocorreram.
informações de Mário Ângelo Barreto
Boa tarde Dinny, sabe se haverá novas manifestações? Pretendo visitar a reserva e tenho ficado estarrecido com o que vejo e leio.
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